segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Bullet Journal: teste do método

Recentemente tomei contato com o método Bullet Journal, que é um jeitão para organizar a vida usando um caderno - um meio analógico, papel. O Bullet Journal, ou Bojo, como é apelidado, tem a intenção de ser flexível e adaptável, de modo que quem usa pode fazer dele o que quiser, ou usá-lo como bem entender.
Muito mais flexível que as nossas tradicionais agendas, o Bojo prioriza as informações, e não as datas. E a flexibilidade está bem aí. Nas agendas tradicionais, você tem um espaço fixo para anotar compromissos e tarefas. Acabou o espaço, acabou a possibilidade de colocar mais alguma informação. Isso acaba levando a gente, muitas vezes, a abrir bloquinhos, caderninhos, etc. para anotar outras coisas que não sejam compromissos e tarefas, mas que cairiam muito bem na companhia desses, se houvesse espaço. Conheço muita gente que, como eu, tem um monte de caderninhos: para anotar hábitos, filmes e séries que está assistindo ou deseja assistir, livros a ler ou lidos, medicamentos que está tomando, coisas que quer pesquisar, etc. Junto disso, anotamos em papeizinhos ou  post-its as listinhas da vida: mercado, farmácia, to do, etc. Muita papelada solta, completada com as outras centenas de anotações virtuais que acabamos fazendo em documentos de word, Google Keep, Wordpad, Sticky Notes na área de trabalho, etc. Muita informação solta e sem coesão - a tentativa de se organizar e manter lembretes de tudo o que é necessário acaba mordendo a gente no bumbum. A gente desiste de algumas anotações no caminho, perde muitas outras, perde a paciência e, no fim, pelo menos pra mim, nem a tradicional agenda funciona mais.
Nos últimos anos eu fui levando os meses finais nas listinhas de tarefas com papéis soltos ou em caderninhos de listinhas. A sobrevivência era a prioridade, a organização ficava meio de lado. A falta de coesão das informações acabava dando a sensação de que eu não conseguia cumprir muita coisa, não estava concretizando muita coisa. A agenda aberta no início do ano já deixou de me servir como guia para não perder compromissos há tempos. Eu a tenho usado para anotar as coisas que fiz e realizei no dia - quase um diário, mas sem sentimentos. Eu fazia anotações sobre sensações, emoções, frustrações, etc em outros cadernos, só para isso, ou em documentos de Word no computador. Então eu acumulava a agenda (com anotações do que eu fiz, e não do que tinha de fazer), um diário (com textos gigantescos sobre meus sentimentos), muitos papeizinhos soltos com listas e afazeres, Sticky Notes com listas e afazeres na área de trabalho do PC, documentos de Word com listas, afazeres, diários, etc.
Embora eu anotasse muito e tentasse me organizar, não sentia que tinha sucesso. Afinal, com tanta coisa em tanto lugar e em diferentes suportes, fica difícil mesmo. Descobri que é preciso concentrar as coisas em um único lugar, ou no mínimo de lugares possíveis. Entenda-se lugar como um instrumento para organização.
O Bullet Journal é um método criado por Ryder Carroll, que, como eu, nunca conseguiu se adaptar aos métodos tradicionais de organização pessoal. Aliás, ao que parece, ele sempre dificuldade com métodos tradicionais de ensino e aprendizagem também, tendo apresentado dificuldades na escola e nos estudos. Ele usou os notebooks comuns da vida para tentar se organizar e aprender e, com o tempo, acabou desenvolvendo um método que o ajudava a se organizar melhor. O método ganhou nome, Bullet Journal, e nada mais é que um jeitão, um esqueleto de guia, um ponto de partida para você começar a criar o seu próprio método. Como eu já disse, a flexibilidade impera aqui, e isso é ótimo. Afinal, quando os métodos são mais estritos e engessados e a gente não se adapta a eles, a sensação de fracasso aparece. Especialmente as pessoas que precisam encontrar os próprios caminhos (e caminhos de rodeio) para aprender, se organizar, enxergar as coisas com mais clareza, já tiveram uma caminhada boa de fracassos com adaptações à métodos de terceiros, e mais um fracassinho a gente pode deixar passar. Aliás, aqui, eu entendo fracasso não exatamente como uma coisa ruim. É sinônimo de "não deu certo", "não é pra mim". Métodos devem ajustar-se às pessoas, e não o contrário. E a gente cresce aprendendo que precisa se adaptar aos métodos, ao mundo, ao pré-estabelecido. Quando essas adaptações não acontecem ou são dolorosas, a sensação de fracasso é inevitável.  E poderíamos evitá-la muitas vezes ao enxergar a vida e as relações com mais flexibilidade. Como não enxergamos, a não adaptação toma ares muito negativos. A gente se sente mal mesmo, a auto-estima cai, e vamos tentando novas adaptações, enquanto poderíamos criar novos métodos (o que é, com certeza, uma coisa maravilhosa e boa para a auto-estima).
Uma boa vantagem do Bullet Journal é a possibilidade de criação. Ryder deu um guia basicão, você que se vira, afinal você pode. Quanta coisa boa tem nisso, quanto empoderamento! E as pessoas o fazem, criam, adaptam, e sai cada coisa fantástica desse exercício de organização criativa que dá pra ficar maravilhado. Além disso, a ideia de Ryder é a superação da sua dificuldade de adaptação, de um "não adaptado" para outro, e para quem mais quiser.
E eu, que sempre fui uma "não adaptada" (ou não adaptável), gostei do Bojo. E do Ryder (que é bem jovem, aliás). Me identifiquei com ele, pela sua dificuldade em adaptar-se à métodos impostos e tradicionais, pela sua dificuldade de aprendizagem. E me identifiquei com o método. Por ser analógico, que é muito mais a minha cara, embora eu use muito o computador. Sempre achei que conseguia me organizar melhor e enxergar as coisas com mais clareza manuseando o papel com as mãos, desenhando e anotando com os dedos, sentindo a informação em seu suporte físico tão palpável. O fato de ser um caderninho cheio de coisas, do que você quiser, também me gerou identificação. Eu tenho, desde 2008, o hábito de ter um caderninho onde vou anotando tudo: compromissos, tarefas, metas, listas, coisas a pesquisar, reflexões pessoais, frases inspiradoras, diários, emoções, acontecimentos. Sempre foi uma bagunça, mas ao menos a maior parte das informações estava num lugar só. Mas eu sempre tive problemas com as anotações soltas e esparsas, também feitas em meio digital. Especialmente desde 2012, quando passei a usar mais meu computador pra tudo na vida. Antes disso eu até tinha o meu próprio computador, mas o usava menos, já que era de qualidade ruim e me deixava na mão. Antes de tê-lo eu usava o computador apenas quando necessário, dividindo desktops com outras pessoas, e aí, por isso, usava muito o papel, e até conseguia ser mais coesa com algumas coisas, porque tinha apenas um suporte para as anotações, compromissos e tarefas. Mas o caderninho com tudo e qualquer coisa sempre esteve presente, com mais ou menos força. E isso gerou uma identificação com o método o Bullet Journal. Parece que fica mais fácil começar e testar um método novo quando você parte de contextos familiares para você - a experiência fica mais amigável. 
Então decidi me aprofundar no método. Separei uma tarde para assistir vídeos e ler postagens de blog sobre o Bojo. Também explorei o site www.bulletjournal.com. O método é bem simples: baseado em um caderno com uma seção para legendas dos bullets utilizados, uma seção para index, future log (organização esquemática dos meses ainda por vir), monthly log (organização em duas páginas para o mês corrente), o daily log (organização do dia, onde mais se utilizam os bullets) e listas (coleções de informações gerais, que ficarão onde você bem entender no caderno, pode ser no daily log, entre dailys logs, etc.). Basicamente é isso. Você pode acrescentar uma lista entre um dia e outro da semana, não tem problema, coloque no index com a página direitinho e acabou. Você pode pular dias no daily log, se quiser, e não ficará com aquela sensação de não ter feito nada em algum dia da semana ao olhar para uma página em branco. Você pode começar quando quiser, não precisa esperar o começo do ano, o início de um mês. Abra um caderno e comece. Isso é muito libertador. 
Eu já estou testando o método.  E vou anotando aqui minhas impressões sobre ele, minhas adaptações, etc.
Até mais,